O Grande Varejo no Brasil
Publicado em 2 de set. de 2023 LinkedIn Yup Chat
Por: Alberto Serrentino* – Advisor | Board Member | Speaker | Author | Founder at Varese Retail | Top Retail Influence
Os dados do Ranking das 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro permitem análises relevantes para entender o comportamento do setor a partir de suas empresas de maior escala, que respondem por 49% do mercado nacional. Fechamos a edição 2023, com dados de empresas com faturamento anual superior a R$ 394 milhões em 2022. Trata-se da 9ª edição realizada pela SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo). Dentre as 300 ranqueadas, há 173 empresas com faturamento anual superior a R$ 1 bilhão, 24 com mais de 1.000 lojas em operação no País, 39 com mais de 10.000 funcionários, 42 de capital aberto e 37 listadas. Além disso, estão listados os principais operadores de e-commerce e marketplace.
Economia e varejo – em 2022 o varejo enfrentou mais um período desafiador. O ano começou com impacto da Covid-19 em seu último surto gradualmente dissipado, que permitiu a superação da pandemia. A inflação começou o ano em patamar superior a 10%, subiu ao longo do primeiro semestre e levou o Banco Central a forte aumento na Selic até 13,75%. A combinação de inflação e juros elevados provocou pressão sobre a renda, encarecimento do crédito e impacto direto nos resultados e liquidez das empresas de varejo, pelo aumento nas despesas financeiras. A inflação inverteu tendência ao longo do segundo semestre, fechando o ano em 5,8%, porém os juros continuaram em patamar elevado.
O mercado de trabalho apresentou melhora em relação a emprego, com saldo líquido de empregos formais superior a 2 milhões no ano e queda na taxa de desemprego de 11% no início do ano para 7,9%.
O rendimento médio teve melhora, porém insuficiente para voltar ao patamar pré-pandemia de 2019.
O resultado foi o baixo crescimento real de 1% no varejo brasileiro, contra aumento do PIB de 2,9%. Com isso, o varejo brasileiro acumula ciclo de oito anos com dois anos de crise aguda (2015-2016), seguidos de 6 anos de baixo crescimento real (2017-2022), sendo os últimos dois com desempenho inferior ao PIB. Em termos setoriais, os segmentos mais dependentes de crédito, como eletroeletrônicos, móveis e materiais de construção tiveram quedas de vendas reais, enquanto varejo alimentar, farma e de moda foram menos impactados.
Desempenho de vendas – desde a primeira edição do Ranking da SBVC, os números revelam desempenho médio das maiores empresas superior ao do varejo brasileiro como um todo. Os números referentes a 207 empresas do ranking mostram que o crescimento nominal de vendas consolidado foi de 20% sobre 2021, contra 14% do crescimento nominal do varejo pelos dados do IBGE. Em todos os segmentos o desempenho das maiores empresas ranqueadas foi superior ao crescimento médio do segmento como um todo. Das empresas com dados comparáveis, 89% cresceram acima da inflação no ano passado.
Expansão, emprego e produtividade – apesar de cenário desafiador pelo impacto da pandemia o grande varejo já havia retomado o processo de expansão em 2021 e manteve crescimento também em 2022, tanto por meio de abertura orgânica de novas lojas como aquisições. Em amostra de 227 empresas do Ranking, houve aumento médio de 7% na base de lojas. Em 69% dessas empresas houve aumento de base de lojas no ano passado e apenas 11,0% delas tiveram redução no número de lojas. Em relação a número de funcionários, para base de 194 empresas houve aumento de 7,6%. De outro lado, a produtividade média aumentou, com venda/ funcionário 12% acima do ano anterior para grupo de 188 empresas.
Concentração e Regionalismo – os dados do Ranking revelam e confirmam a cada edição características estruturais do varejo brasileiro. O mercado brasileiro é complexo e apresenta elevados graus de concentração demográfica e geográfica. A consequência disso para o varejo se dá no baixo nível de concentração e peso relevante do varejo regional. As 10 maiores empresas de varejo do Brasil detêm somente 19% do mercado, as 50 maiores 33% e as 100 maiores apenas 40%.
Em relação à dispersão regional, 47% das empresas só possuem operação em um estado e 65% em até 5 estados. Somente 13% das maiores empresas de varejo do Brasil operam nos 27 estados do País. Apesar de existirem diversas redes com presença nacional, o varejo brasileiro ainda é dominado por empresas de atuação regional.
Aceleração digital – o biênio de 2020 e 2021, marcado pela pandemia, provocou aumento de base de consumidores digitais, salto em maturidade digital e aceleração digital do varejo. No ano de 2022 houve reabertura plena do varejo, retorno às lojas físicas e estabilidade nas vendas online, com leve queda de penetração. O cenário de inflação e juros elevados fez as empresas buscarem crescimento sustentável, com foco em lucratividade e redução em alavancas de crescimento acelerado (descontos, subsídios em frentes e parcelamento). O comércio eletrônico teve crescimento nominal de 6,1% em 2022 segundo dados da NielsenIQ, com penetração digital de 15% e base de 109 milhões de compradores online.
O legado de aceleração digital da pandemia foi incorporado às práticas do varejo. Na base de empresas do ranking, 74% vendem online, com índice de 91% para empresas de segmentos não alimentares. A diversificação de canais e modalidades de venda também foi consolidada, com 39% das empresas realizando vendas por WhatsApp, número que sobre para 57% no não alimentar.
O ecommerce cross-border continua crescendo e ganhando espaço no varejo brasileiro. Em 2022, as compras realizadas por consumidores brasileiros a partir de plataformas internacionais alcançaram R$ 50 bilhões, segundo dados da NielsenIQ. Mais de 78 milhões de consumidores brasileiros já realizaram compras internacionais em plataformas de cross-border.
Marketplaces e plataformas – apesar da desaceleração no crescimento do ecommerce no ano passado, os grandes marketplaces continuam ampliando escala e participação nas vendas digitais. As cinco maiores plataformas – Mercado Livre, Americanas, Magazine Luiza, Amazon e Via – movimentaram 78% das vendas online realizadas no Brasil no ano passado (excluindo-se o cross-border).
De outro lado, o movimento de implantação de marketplaces por parte de empresas de varejo teve estabilidade e recuo em 2022, em função de maior racionalidade e necessidade de busca de lucratividade e geração de caixa. Na base de empresas do Ranking, 27 operam marketplaces proprietários (os chamados marketplace in) e outras 26 operam marketplaces proprietários e também operam em marketplaces de terceiros (o chamado marketplace out). Por fim, 69 empresas operam em marketplaces de terceiros, o que mostra que o grande varejo já adota a presença em marketplaces como estratégia de ampliação de alcance e busca de clientes para vendas digitais.
Diversidade – a pandemia também provocou aceleração e maior foco estratégico das empresas nas pautas de responsabilidade socioambiental, diversidade e inclusão e gerou impacto positivo para as agendas de sustentabilidade, responsabilidade social, diversidade e inclusão. Diversidade, equidade e inclusão passaram a ser vistas como elementos importantes de engajamento de clientes, colaboradores e de criação de ambiente favorável a inovação.
A partir da edição do ano passado, passamos a levantar dados referentes a participação de mulheres no quadro total e em posições de liderança e conselho das empresas do Ranking e este ano incluímos levantamentos sobre participação de pretos e pardos.
Apesar de amostras limitadas (71 empresas que forneceram dados sobre participação de mulheres e 55 empresas sobre pretos e pardos), as empresas de varejo apresentam elevados índices gerais de diversidade. No caso de participação feminina, representa 56% dos colaboradores e no caso de pretos e pardos 54%, para as empresas que reportaram os números.
O desafio é conseguir levar a diversidade para níveis de liderança: enquanto 84% das empresas possuem mais de 30% de cargos de liderança ocupados por mulheres, 44% possuem mais de 50%. Para membros do conselho, 23% das empresas possuem mais de 30% das posições ocupadas por mulheres e 6% mais de 50%. No caso de pretos e pardos a distância é maior: 51% das empresas têm mais de 30% dos cargos de liderança ocupados por pretos e pardos e 24% mais de 50%.
O varejo apresenta elevado grau de diversidade em suas estruturas, mas precisa criar incentivos para ampliar a diversidade em todos os níveis das organizações.
Portanto, os dados do Ranking 2023 da SBVC reafirmam a força das grandes empresas de varejo do Brasil e sua capacidade de enfrentar cenários complexos e desafiadores. O legado de aceleração digital e de foco em ESG trazido pela pandemia foi incorporado às agendas estratégicas, houve aceleração na expansão física das empresas e crescimento, apesar de ambiente econômico adverso. Em cenário de melhoria no ambiente econômico, com maior crescimento, aumento de renda, queda de juros e expansão de crédito, as médias e grandes empresas poderão acelerar seu processo de crescimento e expansão de 9*forma sustentável e mais diversa.
(*) Alberto Serrentino – fundador da Varese Retail, conselheiro e vice-presidente da SBVC. Consultor, conselheiro de empresas, autor e palestrante internacional.
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